Conversando com o Rubinho



Matéria: Glauco(glauco@pesquesolte.com.br)
Fotos: Arquivo Pescaventura (http://www.pescaventura.com.br)

Pesquesolte: Quando o Rubinho começou a pescar?
Rubinho: Comecei a pescar em 1985, com 30 anos e iniciei na pesca com iscas artificiais. Hoje pesco com todo tipo de isca.

Pesquesolte: O Rubinho sempre pescou e soltou? Você se lembra da primeira vez que soltou um grande peixe? Como foi?
Rubinho: Quando comecei a pescar o conceito de pesca no Brasil era de matar e assim fazia como qualquer pescador. Por sorte, logo percebi o prazer da soltura e muito antes de entrar para a TV já praticava o pesque e solte. Não me lembro da primeira vez que soltei um peixe de grande porte, mas tenho guardado na memória ótimos momentos de soltura.


Pesquesolte: Com relação às modalidades de pesca, existe alguma preferência entre o bait e o fly?
Rubinho: Nestes últimos 18 anos aprendi a gostar de todo tipo de pescaria e procurei aprender o máximo possível. Não há nenhuma pesca que não me agrade, a não ser aquelas que não respeitam a natureza e o meio ambiente, seja do estilo que for.


Pesquesolte: Mesmo longe da TV, você ainda é admirado e ídolo de muitos pescadores. Como que o Rubinho foi parar num programa de TV? Você esperava tanto sucesso?
Rubinho: No final da década de 80 e já apaixonado por pescarias sentia falta de um programa de TV que falasse deste assunto. Em conjunto com um amigo decidimos tentar iniciar este processo na TV brasileira. Começamos com um programa chamado Pesca Brasil na rede OM e lá ficamos por cerca de 10 meses, quando fomos convidados pela Record, Manchete e SBT. A opção foi pelo SBT, quando criamos o Pesca & Companhia.
Sucesso não se espera, mas deve-se entrar no jogo acreditando que se pode fazer algo de bom. O tema despertou muito interesse e o sucesso foi conseqüência de um trabalho sério e organizado.



Pesquesolte: Qual é o caminho para se tornar um bom pescador?
Rubinho: Primeiro ter o desejo de se tornar um bom pescador. Depois, se dedicar e estudar o assunto, ler muito, ver vídeos e não ter a vergonha de perguntar para os mais experientes. Se tiver humildade e vontade, qualquer pessoa pode ser um bom pescador.



Pesquesolte: O que é a pesca esportiva?
Rubinho: Para mim pesca esportiva não esta relacionada a estilo de pesca ou tipo e qualidade de equipamento. Conheço pescadores que sabem tudo, possuem equipamentos caríssimos e modernos, só pescam com iscas artificiais e que de esportivo não tem nem o cheiro. Ao contrário de outros que só pescam com linhadas de mão e são exemplos de esportividade. Pescar esportivamente esta na realidade relacionado com comportamento, ou seja na relação do pescador com meio ambiente. Neste caso, as palavras chaves são: preservação e bom senso.



Pesquesolte: Qual a importância do pesque e solte para o meio ambiente e para a economia do país?
Rubinho: A pesca esportiva, se entendida como um segmento importante da economia, pode contribuir fortemente para geração de emprego e renda. É neste aspecto, como um segmento de turismo, que ela pode ser importante ao País.
O pesque e solte é uma atitude simbólica que defini uma atitude preservacionista do pescador. Uma vez, um guia americano me disse que se quisermos ter algum peixe no futuro temos que começar a soltar agora. Não haverá mercado, se não houver matéria prima. É uma regra básica que temos de seguir.


Pesquesolte: Sobre aquele pescador que está acostumado a matar o que pesca, o que você pensa a respeito?
Rubinho: O que falta no Brasil é educação ambiental e este é um papel que tenho me dedicado desde que comecei com os programas de TV. Muitas vezes, o pescador mata sem saber porque e o que esta matando. É falta de conhecimento. Em muitas de minhas palestras e treinamentos de guias, costumo perguntar quem gosta de pescar o dourado. Após levantarem os braços, pergunto quantos dourados acima de 6 ou 7 quilos eles já mataram e se sabem quantos eram machos ou fêmeas. O silêncio geral mostra que poucos têm a informação que a grande maioria dos dourados grandes são fêmeas e não machos. Com certeza, se um pescador tiver informação, ele poderá alterar sua decisão e passar a pensar se vale à pena ou não matar aquele peixe. Temos que conscientizar as pessoas que o principal motivo que os tem levado a matar os peixes é a provação. O brasileiro ainda precisa mostrar seus troféus para provar aos outros que é bom pescador. Este, me parece um motivo muito pobre para se matar um peixe de porte, com muitos anos de vida, selecionado para reprodução, atrativo maior da pesca esportiva, etc...


Pesquesolte: O Brasil possui o maior potencial para a pesca esportiva no mundo, mas exploramos muito pouco isso. Por que países menores e com menos espécies geram mais receita com a pesca esportiva do que nós? O que falta fazer?
Rubinho: Acreditar que o turismo da pesca é importante para o País, podendo gerar renda e emprego, criar alternativas de trabalho para quem vive da extração do pescado, ter leis claras e simples e fazer com que sejam cumpridas.


Pesquesolte: Qual a sua opinião sobre os tamanhos mínimos e as cotas atuais? E sobre a idéia de definir tamanhos máximos e proibir a pesca profissional em águas interiores?
Rubinho: De uma maneira geral, as leis sobre a pesca no Brasil são complexas, confusas e muitas vezes ultrapassadas. Em países mais avançados e exemplos de pesca esportiva, se trabalha com tamanhos máximos e mínimos, pois já perceberam a importância de se preservar o grande exemplar, seja com carga genética para reprodução, capacidade de geração de alevinos e para garantir o atrativo ao setor. Se a Amazônia passar a ter somente peixes de 2 ou 3 quilos a oferecer aos turistas que para lá se dirigem, pode esquecer e cortar o turismo de sua atividade. Ninguém gastará um centavo se não houver o desafio do peixe grande. É uma regra básica e só não enxerga que não quiser ver. Qualquer pessoa que trabalhe no segmento, seja lojista, distribuidor, dono de estrutura turística, guia de pesca, pegador de isca, etc..., seja quem for, que não contribuir para o fortalecimento do pescar e soltar estará cometendo um grande equivoco e não percebe que esta apertando o laço ao redor de seu pescoço e dos outros.
Se não cuidarem para ter matéria prima no futuro, não terão o ganha pão de cada dia e contribuirão para o fracasso do segmento.





Pesquesolte: Com relação às espécies exóticas, por exemplo: o tucunaré e o black-bass no sudeste, atualmente não há nenhuma lei que os proteja, nem na época da desova. Qual a sua opinião a respeito?
Rubinho: Sou contra qualquer quebra de nicho ecológico em ambientes que estejam ainda em estado natural. O risco é muito alto e não sabemos os resultados com o passar dos anos. O ser humano tem uma visão muito restrita de impacto ambiental, pois só conseguimos enxergar 10, 20 ou 30 anos à frente. Tenho receio do longo prazo, das futuras gerações, pois nosso tempo de vida é muito pequeno quando comparado à evolução do mundo. Os exemplos existem de sobra, como os coelhos na Austrália, o iguapé no rio Mississipi, alguns anfíbios que foram introduzidos na América do Norte, o pardal no Brasil e por que não da abelha africana também no Brasil. Não devemos brincar de Deus, não é o nosso papel.
Agora, quando falamos de ambientes que já foram modificados pelo homem é uma outra história e não devemos correr o risco da hipocrisia. Em muitas dessas represas estes peixes já estão introduzidos e não há forma de acabar com eles e os peixes originários daquela bacia já não encontram ambientes adequados para sua sobrevivência. Neste caso sou favorável a se investir recursos em pesquisa e tentar até melhorar a carga genética destes cardumes, para com isso desenvolver uma atividade turística de pesca que possa contribuir com o País.


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Pesquesolte: Como surgiu a idéia de criar uma escola de pesca? Como é esse trabalho de ensinar?
Rubinho: Quando parei com a TV, aproveitei este tempo livre para desenvolver esta atividade que era um sonho antigo. Poder passar conhecimento e poder contribuir para melhoria da qualidade técnica e comportamental de nossos pescadores é altamente necessário e gratificante.
Meu braço direito na escola, tem sido o Laércio da Costa Quatrocci, com quem divido o prazer de passar alguns ensinamentos aos alunos.
A Escola Pescaventura, desde que começou a funcionar, já treinou mais de 2.000 alunos e tem muito orgulho disso. Plantamos boas sementes.

Pesquesolte: Poderia citar algum acontecimento e/ou fato histórico, com relação à Escola Pescaventura?
Rubinho: Gostaria de aproveitar para dizer que foi motivo de muito orgulho para nós da escola PESCAVENTURA, ter negociado a vinda ao Brasil de uma das maiores autoridades no mundo do fly: - Mel Krieger.
Na oportunidade, além de possibilitarmos que várias pessoas o conhecesse pessoalmente, um grupo de "privilegiados" teve a sorte de poder participar de um curso ministrado pelo próprio MEL.
Outro ponto que gostaria de registrar, é a contribuição que a escola PESCAVENTURA teve e/ou tem na formação de vários instrutores de pesca espalhados pelo Brasil. Para nós, é motivo de muita honra, mesmo que alguns reneguem a origem da sua formação e/ou nunca tenham citado a nossa Escola como algo de bom em suas vidas.

Pesquesolte: Como tem sido a procura pelos cursos oferecidos pelo Pescaventura? E as viagens de turismo?
Rubinho: O turismo Pescaventura cresce a cada ano e acredito que a formula de proporcionar uma pescaria bem planejada, com suporte e informação é o futuro deste segmento. Muitos pacotes carecem de seriedade e isso é negativo, pois a frustração de uma viagem pode afastar do segmento um potencial bom cliente. O ser humano, por principio é refratário a mudanças e se sente mais seguro se perceber que esta bem orientado, reduzindo o risco de cair em alguma cilada
Na escola, a procura é boa, mas ainda não oferece segurança de volume como negócio auto-sustentável. O pescador brasileiro, de uma maneira geral, tem pouco interesse em buscar novas informações, em melhorar sua técnica de pesca. Ou acha que sabe ou esta satisfeito com o que sabe. É uma característica e não um defeito.
Dá para perceber claramente isso, quando se participa de cursos no exterior. São muitas escolas com turmas enormes, e se percebe o interesse de pessoas de todas as idades e sexo.
Muitos alunos que fazem um curso básico já se sentem preparados e acham que sabem tudo e não se constrangem em abrir sua própria escola já na semana seguinte. Não é ruim haver muitas escolas, mas é fundamental que a instrução seja dada por pessoas preparadas e treinadas para isso, para que a informação seja passada de forma séria e útil.


Pesquesolte: Existe alguma coisa relacionada com a pesca que você se arrepende de ter feito? Ou de não ter feito?
Rubinho: Não é uma questão de arrependimento ou não, mas com certeza faria coisas diferentes hoje do que fiz no passado. Os anos passam e a gente amadurece. Se fosse possível voltar no tempo com a experiência atual, certamente poderia contribuir mais efetivamente com o desenvolvimento do segmento.



Pesquesolte: Quais são os seus projetos para o futuro?
Rubinho: Fortalecer cada vez mais as atividades da Escola e do Turismo. Atuar mais fortemente na relação do Pescaventura com a Casa de Pesca de Pinheiros, parceria que teve seu início em maio deste ano e que caminha a passos largos.
Com relação à TV, esta prevista a estréia do programa Pescaventura na SKY. Logo mais estará sendo comunicando ao mercado.





Pesquesolte: Uma pergunta que não poderia faltar. Se hoje você recebesse um convite para apresentar um programa de TV, você aceitaria?
Rubinho: Minha experiência na TV por quase 10 anos foi muito gratificante e ainda acredito que há muito a ser feito. Assim, sendo um projeto sério e de qualidade, não há nenhuma razão para recusá-lo.

     




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